domingo, 8 de setembro de 2013

Uma história sobre o outro eu

Hoje eu escrevo pra contar uma experiência, de uma forma mais poética, que tive a alguns dias, ao retornar à cidade onde me converti. Espero que vocês reflitam sobre isso.



Era uma sexta à noite, e lá estava eu com uma mala na mão, na rodoviária da minha cidade, esperando o ônibus da mesma empresa que sempre pego para fazer essa viagem. Ela começa no meio do triângulo mineiro, na cidade de Araguari, e vai até a capital do país, Brasília. Uma hora e meia de atraso, e logo vi que pelo menos a pontualidade do ônibus não tinha mudado em nada em cinco anos que não utilizava esse serviço.
Quando finalmente vi o ônibus estacionando no terminal, e subi a bordo, a lembrança da minha infância veio à tona, afinal, quase todas as férias de fim de ano, desde que eu me entendo por gente, isso acontecera. Só que dessa vez os motivos que me fizeram retornar a capital eram diferentes, pois dessa vez, iria ver pela primeira vez minha primeira sobrinha, que nascera a 8 meses e também rever aqueles amigos que em uma despedida amarga a 5 anos ficaram para trás, no porão da minha saudade.



A viagem no cerrado brasileiro sempre é um espetáculo à parte. Com uma vegetação viva e tortuosa, e o nascer do sol espetacular, sem igual. A única coisa a reclamar é o ar condicionado na minha cara durante toda a viagem, que não me deixou dormir nem por 10 minutos.
Desembarcando enfim no meu destino final, vejo meu irmão me esperando no ponto. Dessa vez não era somente o meu irmão, agora era o pai da minha sobrinha, com todas as responsabilidades e felicidades que isso pode trazer, no seu olhar. Isso, além de velho, me fez sentir uma alegria sem igual.
Depois de chegar na casa do meu irmão, local onde iria ficar enquanto estivesse em Brasília, fui ver minha sobrinha, e garanto pra vocês, que coisa mais fofa não existe. Sim, virei um daqueles tios babões, ao ponto de uma lágrima (máscula) correr dos meus olhos. Depois de ficar bastante com ela, e colocar o papo em dia com meu irmão e cunhada, hora de rever os amigos que moravam mais perto.
Descendo do apartamento, e começando a andar por aquelas quadras, a nostalgia começou a tomar conta de mim. Tantas lembranças, tantos amigos, tanto tempo se passou, que era como se uma nuvem do passado tivesse me guiando naquele momento. Até que bem em frente da padaria onde costumava comprar pão (que hoje é uma igreja evangélica pentecostal) em uma casinha que até hoje eu não sei muito bem pra que existe, mas lembro que por muito tempo as frases “Brasil rumo ao penta 98” permaneciam em suas paredes, vi aquele menino sentado com a cabeça curvada aos joelhos. Suas mãos abraçavam as pernas e seu cabelo batia no pescoço, suas roupas eram uma calça jeans largada, um tênis all star, além de usar uma blusa branca de manga cumprida por baixo de uma camiseta preta. Me aproximei dele bem devagar, pois fazia muito tempo que não me encontrava com ele, eu não saberia qual seria sua reação.



_ Oi… – disse eu.
Ele levantou a cabeça, olhou nos meus olhos com um olhar de desprezo e falou:
_ Hum…então quer dizer que você resolveu voltar…
_ Pois é, já faz muito tempo.

_ Tempo…. O que você sabe sobre o tempo? – Disse ele em um tom irônico.
_ Não entendi o que você quis dizer com isso…
_ Já faz 8 anos desde aquele dia. Você me rejeitou e preferiu viver essa vidinha medíocre de agora!
_ Minha vida de forma alguma é medíocre! Na verdade, sei que nunca fui tão feliz quanto eu sou.
_ Felicidade? Você abandonou quem você era, sua essência! Como alguém pode ser feliz abandonando essas coisas?
_ Eu nunca tive tanta certeza de que eu sou a melhor pessoa que eu posso ser hoje. Lembro de quando eu era você, vivia em mentiras, em orgulho, em carência, em confusão. Como alguém pode ser feliz dessa maneira?
_...

_Eu fiz o que tinha que ser feito. Não consegui resistir… Certamente a graça de Deus é irresistível!
_ Acontece que durante 15 anos ela não pareceu tão irresistível assim…. Na verdade, até que você resistia bem!
_ Ninguém sabe a hora que vai ser chamado, e aquela hora, foi a minha hora.
_ Você me matou! Me enterrou nessa cidade e fugiu.
_ Foi necessário, pra que uma morte pior não acontecesse comigo.
_ Nunca vou entender o que aconteceu com você. Isso é loucura!
_ Verdade, foi uma loucura… mas nunca uma loucura me fez tão bem!
_ Tem certeza que não pretende voltar atrás? Ainda há tempo! Você tem uma vida pela frente...pensa bem…
_ Não vai dar… As pessoas que tenho hoje do meu lado, minha mãe, minha namorada, futura noiva e mãe dos meus filhos, meus projetos, e principalmente, Jesus… Não consigo trocar essas coisas cara…. Não vai dar mesmo.
_ Então eu acho que é isso….
_É, tenho que ir andando… a vida continua e ainda tenho muito pra fazer.
_ Se algum dia mudar de ideia, saiba que eu estou aqui… Podemos ser muito felizes ainda…

Depois de falar isso, ele voltou a colocar a cabeça entre os joelhos, na posição inicial, petrificado, na esperança de que algum dia eu fosse tirar ele de lá. Fui me afastando e, mais uma vez, consegui ser grato ao lembrar de tudo que Deus fez na minha vida, desde o dia em que neguei aquele velho eu, e me tornei esse novo homem que sou hoje.

Aprendi, nessa minha volta as lembranças, que muita coisa na sua vida fica pra trás quando você decide trilhar um novo caminho. As vezes nem se tem tantas opções assim, como uma lagarta que se vê obrigada a sofrer uma metamorfose, se quiser continuar a viver. Mas no final de todas as coisas, você consegue enxergar a bondosa e justa mão de Deus, sobre todas as coisas, e acaba vendo que vale a pena se desapegar das coisas, porque a única coisa que é segura o suficiente pra você se apegar, é a vontade soberana de Jesus, o Cristo.
E assim, depois de outros dois dias revendo amigos, e curtindo minha sobrinha, voltei pra minha terra, tipo o programa do GuGu, só que sem o GuGu. E voltei cheio de esperança, pro meu futuro, e acima de tudo, cheio de alegria por servir ao Deus misericordioso que sirvo.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Faça um blogueiro feliz e comente!