Hoje eu escrevo pra contar uma experiência, de uma forma mais poética, que tive a alguns dias, ao retornar à cidade onde me converti. Espero que vocês reflitam sobre isso.
Era uma sexta à noite, e lá estava eu com uma mala na mão, na rodoviária da minha cidade, esperando o ônibus da mesma empresa que sempre pego para fazer essa viagem. Ela começa no meio do triângulo mineiro, na cidade de Araguari, e vai até a capital do país, Brasília. Uma hora e meia de atraso, e logo vi que pelo menos a pontualidade do ônibus não tinha mudado em nada em cinco anos que não utilizava esse serviço.
Quando finalmente vi o ônibus estacionando no terminal, e subi a bordo, a lembrança da minha infância veio à tona, afinal, quase todas as férias de fim de ano, desde que eu me entendo por gente, isso acontecera. Só que dessa vez os motivos que me fizeram retornar a capital eram diferentes, pois dessa vez, iria ver pela primeira vez minha primeira sobrinha, que nascera a 8 meses e também rever aqueles amigos que em uma despedida amarga a 5 anos ficaram para trás, no porão da minha saudade.
A viagem no cerrado brasileiro sempre é um espetáculo à parte. Com uma vegetação viva e tortuosa, e o nascer do sol espetacular, sem igual. A única coisa a reclamar é o ar condicionado na minha cara durante toda a viagem, que não me deixou dormir nem por 10 minutos.
Desembarcando enfim no meu destino final, vejo meu irmão me esperando no ponto. Dessa vez não era somente o meu irmão, agora era o pai da minha sobrinha, com todas as responsabilidades e felicidades que isso pode trazer, no seu olhar. Isso, além de velho, me fez sentir uma alegria sem igual.
Depois de chegar na casa do meu irmão, local onde iria ficar enquanto estivesse em Brasília, fui ver minha sobrinha, e garanto pra vocês, que coisa mais fofa não existe. Sim, virei um daqueles tios babões, ao ponto de uma lágrima (máscula) correr dos meus olhos. Depois de ficar bastante com ela, e colocar o papo em dia com meu irmão e cunhada, hora de rever os amigos que moravam mais perto.
Descendo do apartamento, e começando a andar por aquelas quadras, a nostalgia começou a tomar conta de mim. Tantas lembranças, tantos amigos, tanto tempo se passou, que era como se uma nuvem do passado tivesse me guiando naquele momento. Até que bem em frente da padaria onde costumava comprar pão (que hoje é uma igreja evangélica pentecostal) em uma casinha que até hoje eu não sei muito bem pra que existe, mas lembro que por muito tempo as frases “Brasil rumo ao penta 98” permaneciam em suas paredes, vi aquele menino sentado com a cabeça curvada aos joelhos. Suas mãos abraçavam as pernas e seu cabelo batia no pescoço, suas roupas eram uma calça jeans largada, um tênis all star, além de usar uma blusa branca de manga cumprida por baixo de uma camiseta preta. Me aproximei dele bem devagar, pois fazia muito tempo que não me encontrava com ele, eu não saberia qual seria sua reação.
_ Oi… – disse eu.
Ele levantou a cabeça, olhou nos meus olhos com um olhar de desprezo e falou:
_ Hum…então quer dizer que você resolveu voltar…
_ Pois é, já faz muito tempo.