Imaginem, num mundo
paralelo, que uma pessoa nasça com as pálpebras coladas ao rosto. Imaginem que
lhe fosse impossível abrir os olhos completamente, e que ela estivesse fadada a
ver apenas parte do mundo de verdade. Por muitos anos, ela andou e andou por aí,
tropeçando, caindo, esbarrando em coisas, se machucando e machucando as
pessoas. Com o passar do tempo, essa pessoa começou a achar tudo isso normal,
pois, afinal de contas, sua incapacidade a fazia cometer todas essas ações
prejudiciais às pessoas e a ela mesma. Além disso, já havia pedido, por várias
vezes, que os médicos lhe fizessem enxergar, mas eles tinham sempre a mesma resposta:
poderiam tentar, mas havia um grande risco de se cortar, junto com a pele da pálpebra
que a cobria a visão, os seus olhos. Este mal, além de doloroso seria
eterno. Por fim, os médicos passavam a decisão para ela e, com medo, ela sempre
preferiu ver as cosias pela metade. Com pedaços de pálpebras a tapar-lhe a
visão. Tomava essa decisão, sempre, como já dito, pelo medo da dor. E de essa
dor eventualmente se torna algo que ela carregasse pelo resto de sua vida.
Um dia, um médico a viu
na rua. E interessado, foi até ela. Checou um histórico rapidamente, e disse a
ela que poderia ajudá-la a enxergar melhor, entretanto isso doeria muito, mas
assim ela conseguiria ver. Foi a primeira vez que alguém disse que ela não
correria risco de ficar cega, e justamente por isso, porque o médico passou
para ela toda fé que ela precisava ter nos métodos dele, ela aceitou. No dia em
que o médico determinou, ela veio a ele, e ele, com um estilete cirúrgico,
cortou as partes que faziam com que os olhos dela ficassem presos. A moça
gritou e chorou muito durante algum tempo, mas após alguns dias que a dor pior
havia passado, ela enxergava e justamente por isso estava eternamente grata ao
médico, e passou a se comunicar com ele frequentemente (jamais deixando de
agradecê-lo). Ela insistiu em lhe dar uma quantia, mas o médico disse que não
queria porque além de não precisar, não via sentido em ser pago por fazer o
bem.
Pois bem meus queridos,
essa pequena introdução de meu texto é para dizer que o evangelho perpassa sim
pelo caminho da dor. E num tempo em que ser feliz é praticamente uma exigência
social, profissional, pessoal, etc; numa geração em que ser bem sucedido está
acima de tudo e de todos na escala de prioridades, percebemos que a parte
dolorosa do evangelho tem sido sufocada na Igreja do Senhor, dando lugar a
pregações liberalistas, universalistas. Deparei-me essa semana com um pastor,
já bastante conhecido, Ed René Kvitz, que disse que o escândalo do evangelho é
que não existe mais pecado. Ainda completa seu raciocínio dizendo que todos
serão salvos, mesmo que não o saibam (ou soubessem) disso antes de morrer.
Partindo daí só posso
dizer uma coisa. Ser Cristão assim é muito fácil. E isso me assombra. Pois
quando pararmos para ver, quantas pessoas vão acabar preferindo acreditar
nessas afirmações descabidas, e seguir uma conduta evangélica que não é uma
vírgula condizente com a Bíblia e com os homens de Deus. É, certamente, uma vida
muito mais confortável. Se não há pecado, não do que me arrepender, não preciso
passar pela vergonha de declarar os erros que cometo (e não são poucos, aliás).
Quantas pessoas vão ser enganadas para viver esse evangelho fajuto, de mentira.
Não existisse o pecado,
por que Paulo afirmaria que ele próprio era um pecador (1 Timóteo 1:15)?
Não houvesse o pecado, qual o sentido das palavras de Jesus ao dizer que veio
para os doentes ( Marcos 2:17)? Notem que
Jesus, inclusive, diz que não veio simplesmente salvar os pecadores, mas
chamá-los a se arrepender.
Esse evangelho falso,
próspero, de que todos serão felizes, de que todos serão bem sucedidos é um evangelho
mentiroso. O evangelho verdadeiro é aquele que vem da dor. Das lágrimas da
única pessoa que nunca mereceu chorar. Irmãos e irmãs o evangelho, não só vem
da dor, mas também leva pessoas por um caminho que nem sempre é belo e
confortável.
Dizendo:
Pai, se queres, passa de mim este cálice; todavia não se faça a minha vontade,
mas a tua.
Lucas 22:42
Lucas 22:42
Tomado de uma dor
inexplicável Jesus pede para que o cálice de seu tormento seja passado. E, ainda que,
pudesse negar-se a passar pelo que passou, pois era Deus em forma de homem,
Jesus pede que a vontade do pai seja feita.
E,
posto em agonia, orava mais intensamente. E o seu suor tornou-se como grandes
gotas de sangue, que corriam até ao chão
Lucas 22:44
Lucas 22:44
Tão grande era a agonia
de Jesus para que suasse sangue. E muitos de nós, quantas vezes queremos fugir
de situações que deveríamos enfrentar. Quantas vezes deixamos de fazer o que é
certo para, simplesmente, termos um momento de conforto.
Então,
prendendo-o, o levaram, e o puseram em casa do sumo sacerdote. E Pedro seguia-o
de longe.
Lucas 22:54
Lucas 22:54
Aquele que veio para
nos libertar, antes foi preso.
E,
virando-se o Senhor, olhou para Pedro, e Pedro lembrou-se da palavra do Senhor,
como lhe havia dito: Antes que o galo cante hoje, me negarás três vezes.
E, saindo Pedro para fora, chorou amargamente.
Lucas 22:61-62
E, saindo Pedro para fora, chorou amargamente.
Lucas 22:61-62
Ao perceber que havia
negado seu salvador, Pedro ficou amargurado com sua atitude desonesta e
mesquinha. Atitude essa que muitas vezes tomamos.
E
os homens que detinham Jesus zombavam dele, ferindo-o.
E, vendando-lhe os olhos, feriam-no no rosto, e perguntavam-lhe, dizendo: Profetiza, quem é que te feriu?
E outras muitas coisas diziam contra ele, blasfemando.
Lucas 22:63-65
E, vendando-lhe os olhos, feriam-no no rosto, e perguntavam-lhe, dizendo: Profetiza, quem é que te feriu?
E outras muitas coisas diziam contra ele, blasfemando.
Lucas 22:63-65
O único nunca mereceu
uma mazela que fosse foi zombado e ferido. Antes de ser julgado de crimes que
não havia cometido.
As pessoas clamavam
para que Jesus fosse crucificado, e, mesmo assim, Jesus clamou a Deus que
perdoasse essas pessoas, visto que não sabiam o que estavam fazendo.
E
dizia Jesus: Pai, perdoa-lhes, porque não sabem o que fazem. E, repartindo as
suas vestes, lançaram sortes.
Lucas 23:34
Lucas 23:34
Quantas vezes irmãos,
perdoamos a quem peca gravemente contra nós porque essa pessoa não tem noção do
que está fazendo. Quantas?
E tudo isso que se
sucedeu com Jesus, culminou na sua morte. Uma morte, que mais uma vez é
importante lembrar, Ele jamais mereceu.
E,
clamando Jesus com grande voz, disse: Pai, nas tuas mãos entrego o meu
espírito. E, havendo dito isto, expirou.
E o centurião, vendo o que tinha acontecido, deu glória a Deus, dizendo: Na verdade, este homem era justo.
Lucas 23:46-47
E o centurião, vendo o que tinha acontecido, deu glória a Deus, dizendo: Na verdade, este homem era justo.
Lucas 23:46-47
Entretanto, a dor que o
evangelho traz tem um propósito diferente da dor que o pecado traz.
Porque
o salário do pecado é a morte, mas o dom gratuito de Deus é a vida eterna, por
Cristo Jesus nosso Senhor.
Romanos 6:23
Romanos 6:23
Ou seja, a dor que o
evangelho traz vem com vida dentro dele, vem com beleza dentro dele. Vem com a
graça de Deus. Assim como o médico da história contada no início, Jesus faz
conosco. Primeiro ele corta as pálpebras coladas dos nossos olhos para que
possamos enxergar, e isso dói. Muito! Principalmente porque percebemos que nós
não somos pessoas boazinhas, que só querem o bem das pessoas, muitas vezes, se
possível fosse, faríamos até o mal a quem nos fosse conveniente. Dói porque
percebemos o quão impotente s somos diante do Deus que nos criou. Entretanto,
essa dor acaba por trazer vida eterna, algo que conforto nenhum nesse mundo
material pode nos dar, e justamente por causa desse presente que suportaremos
quantas mais dores forem necessárias.
Que a paz seja convosco (apesar de todas as dores)
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